terça-feira, 27 de maio de 2008

Eu aborto, tu abortas, somos todas clandestinas…

Reproduzo aqui o artigo de Nilcéia Freire, ministra da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, a respeito da decisão do juiz Aloísio Pereira dos Santos, que pretende levar a julgamento 9.896 mulheres acusadas de praticar aborto.
Pergunto: por que não julgar também os homens que ajudaram a gerar esses fetos? Por que a responsabilidade recai somente sobre a mulher?
Pergunto de novo: até quando vamos nos submeter a uma legislação arcaica, medieval, baseada em dogmas religiosos e preconceitos?
Abortar é uma decisão difícil e dolorosa -- nenhuma de nós aborta porque quer ou acha bonito. Trata-se de necessidade. Em geral, porque a miséria não comporta mais uma boca para dividir a comida rara. E porque o homem, que não carrega o feto dentro dele, some, deixando a mulher sozinha com a responsabilidade e a decisão.
Minha solidariedade às mulheres campo-grandenses. A todas aquelas que já abortaram. E àquelas que ainda abortarão.

Fúria judicial contra as mulheres*
NILCÉA FREIRE
Está em curso, em Mato Grosso do Sul, um episódio assustador e de imensa fúria persecutória contra os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, no Brasil.
Nada menos do que 9.896 mulheres mato-grossenses estão prestes a serem interrogadas e levadas a julgamento, num só processo, no qual são acusadas de terem provocado abortos, desde o final dos anos 90, conforme decisão do juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Mato Grosso do Sul, Aloísio Pereira dos Santos. A decisão, historicamente inédita, é tão injusta quanto estarrecedora, apesar de encontrar amparo na legislação brasileira.

Em abril do ano passado, houve a instalação de um inquérito contra a proprietária de uma Clínica de planejamento familiar, com 20 anos de funcionamento no centro de Campo Grande (MS), acusada de praticar abortos. A apreensão de milhares de prontuários médicos daria origem ao processo em massa contra as quase 10 mil mulheres.

A delegada Regina Márcia Rodrigues Mota, que conduz o caso, afirmou que está estudando “a organização de uma força-tarefa para concluir os inquéritos e remetê-los à Justiça”. O promotor de Justiça Paulo César dos Passos fundamentou: “A pressa é para evitar a prescrição do delito, que ocorre em oito anos.”

No ímpeto de condenar, a Justiça promoveu constrangimentos ilegais. Prontuários médicos, dos quais as instituições de Saúde são as guardiãs, segundo a legislação brasileira, foram apreendidos e colocados à disposição da curiosidade de quem quer que seja. Na seqüência, o juiz recuou, devido à grande procura - principalmente de homens - por interessados em saber o nome das clientes.

Qual é a real motivação de tamanha truculência? Será que realmente é o caso de se instituir uma força-tarefa como se estivéssemos tratando de uma horda de delinqüentes de elevada periculosidade para a vida em sociedade? Está sendo justa a Justiça? E a responsabilidade dos 9.896 homens supostamente associados àquelas gestações? Também será em algum momento lembrada e cobrada judicialmente?

O Brasil é signatário de diversos instrumentos jurídicos e acordos internacionais, entre eles a Convenção sobre a Eliminação de todas as formas de Discriminação contra as mulheres e a Plataforma de Ação da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento, no Cairo, que visam a assegurar o direito à Saúde sexual e reprodutiva das mulheres. O aborto provocado é reconhecido, mundialmente, como um importante problema de Saúde pública, especialmente nos países cujas legislações restringem a sua prática, como é o caso brasileiro.

Enquanto a taxa de aborto por 1.000 mulheres é de 4/1.000 em países como a Holanda, no Brasil a estatística é 10 vezes maior: 40/1.000. Não há família, no sentido amplo, que não tenha vivenciado esse drama.

Esse descompasso entre a vida cotidiana das pessoas e a criminalização da prática do aborto fica evidente no episódio em curso na Justiça mato-grossense, além de comprovado por inúmeras pesquisas especializadas.

Para se ter uma idéia, segundo a pesquisa aborto induzido: Conhecimento, Atitude e Prática de Ginecologistas e Obstetras no Brasil, realizada em 2005, pelo Centro de Pesquisas em Saúde Reprodutiva de Campinas (Cemicamp), aproximadamente 80% dos ginecologistas e obstetras ouvidos (3.386 profissionais) que viveram alguma situação de GRAVIDEZ indesejada em suas vidas (homens e mulheres) optaram pela interrupção voluntária da GRAVIDEZ, mesmo fora das possibilidades legais vigentes.

O mesmo levantamento, contudo, nos informa que cerca de 50% dos médicos respondentes à pesquisa e que trabalham em serviços públicos de Saúde, diante de um caso de aborto - ainda que previsto em lei - optam por pedir a outro profissional para que realize o procedimento.

Outro estudo do Cemicamp revela que, no âmbito do Poder Judiciário, quatro de cada cinco magistrados que vivenciaram uma GRAVIDEZ indesejada decidiram que a situação justificava a prática do aborto. No entanto, cerca de 50% dos juízes não abrem mão da exigência de alvará judicial para autorização da prática de aborto prevista em lei (casos de risco iminente de morte para a mãe e Estupro), procedimento desnecessário conforme as próprias normas jurídicas vigentes.

Esses indicadores demonstram que, quando estamos mais próximos de quem vivencia uma GRAVIDEZ indesejada, é maior a tendência a justificar a interrupção voluntária da gestação, ainda que isso não signifique alteração na rejeição ao aborto em si.

Todas as pesquisas de opinião revelam que a maioria dos brasileiros preferiria que nenhuma mulher tivesse que provocar um aborto. Mesmo aquelas mulheres que terminaram por provocar um aborto manifestavam opinião contrária a essa prática, até se verem na situação que as levou a optar pela interrupção da gestação.

O que está por ser aferido - e a reação da opinião pública ao caso das 9.896 mato-grossenses poderá contribuir para esse balizamento - é a taxa de rejeição a prisões de mulheres por aborto, na sociedade brasileira.

O primeiro passo foi dado, na semana passada, por um conjunto de organizações feministas e de defesa dos direitos das mulheres, que denunciou à Subcomissão da Defesa da mulher, no Senado Federal, a violação dos direitos humanos das mulheres no contexto do caso de Campo Grande.

Urge responder, no caso de Mato Grosso do Sul, se está sendo justa a Justiça.

* publicado no jornal O Globo de 28/4/2008.




segunda-feira, 19 de maio de 2008

Prefeito de Ribeirão Bonito cria sala da transparência

por Josmar Verillo – Conselheiro da AMARRIBO (publicado com autorização da AMARRIBO)

Atendendo a uma reivindicação antiga da AMARRIBO, o recém-empossado Prefeito Paulo Veiga criou a sala da transparência na Prefeitura de Ribeirão Bonito. Veiga assumiu no dia 6 de março, após a cassação do Prefeito Rubens Gayoso Junior pela Câmara Municipal de Ribeirão Bonito, por causa de um contrato fraudulento com um jornal de São Carlos.

Pelas regras, qualquer cidadão poderá se dirigir à Prefeitura e requisitar qualquer documento. O cidadão preenche uma requisição solicitando o que ele quer ver, e a prefeitura marca dia e hora para colocar à disposição dos referidos documentos. Se o cidadão quiser tirar cópia dos documentos poderá também fazê-lo.

Esse novo sistema começa a funcionar na próxima semana, em instalação existente, mas o Prefeito informou que fará uma reforma no prédio, criando uma sala especial para essa finalidade, que contará também com um computador, impressora, máquina de xérox, e uma mesa de trabalho.

Se houver mais de uma pessoa solicitando os mesmos documentos no mesmo horário, a prioridade será dada a vereadores, em segundo lugar representantes de entidades da sociedade civil, e por fim o cidadão.

Esse fato reflete uma mudança cultural importante, e vai permitir que a população acompanhe com mais efetividade o uso do dinheiro público.

A AMARRIBO vai agora proporcionar treinamento a diversos cidadãos, sobre como fiscalizar os gastos públicos, para que com isso a cidade ganhe dezenas de fiscais que possam se revezar na analise de documentos ou pagamentos que levantem suspeitas.


quinta-feira, 15 de maio de 2008

Transplante das árvores começa hoje

A retirada das árvores do terreno do shopping, para transplante na praça da rua Adib Auada, começa hoje e deve se estender por quatro ou cinco dias. A boa notícia é que vai-se tentar replantar também o abacateiro, como ficou acertado na visita realizada hoje pela manhã entre Angelo Guglielmi, diretor de meio ambiente da prefeitura, o empreiteiro e o paisagista do shopping, Fau e eu. O shopping também se comprometeu a fazer a manutenção da praça permanentemente.
P.S. A Fau acaba de me ligar, avisando que o "paisagista" deve ser, na verdade, jardineiro. Ela vai entrar em contato com a BRMalls para apurar o caso.


Árvores "retalhadas" no terreno do shopping: cena que não deve se repetir, graças à mobilização imediata do movimento de moradores.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Shopping e Departamento de Meio Ambiente explicam corte das árvores


Angelo Guglielmi, diretor do Departamento de Meio Ambiente de Cotia: pego de surpresa pelos cortes.


"Também fui surpreendido."
Foi essa a resposta que o diretor do Departamento de Meio Ambiente de Cotia, Angelo Guglielmi, deu quando lhe falei, em entrevista ontem à tarde, sobre o fato de os moradores da Granja terem sido surpreendidos pelo corte das árvores no terreno da BRMalls, em 13 de maio.
Angelo explicou que procurou a empresa para saber o porquê dos cortes e foi informado de que isso se deveu a um engano, um "ruído de comunicação". Segundo a BRMalls, a troca de executivos responsáveis pela obra foi a causa do problema.
Marcelo Kingston, que participou da reunião com o movimento de moradores, no final de abril, viajou para os Estados Unidos, deixando o cargo para Paulo Coelho. Uma "falha" na comunicação entre ambos, segundo me explicou uma fonte da empresa, levou Paulo a autorizar a entrada, no terreno, da equipe encarregada da terraplenagem e da supressão da vegetação.
Avisado da reação dos granjeiros, Paulo deu ordem para a paralisação dos trabalhos na tarde do dia 13. E garantiu, de acordo com a assessoria de imprensa da BRMalls, que o acordo com a comunidade está mantido: as árvores sadias serão transplantadas.
Hoje, às 9h, Angelo vai se reunir com o responsável pela terraplenagem e com um representante da BRMalls, para orientá-los sobre o transplante de quaresmeiras e paus-ferros, espécies que, segundo ele, têm chances de resistir à operação. A retirada das árvores -- com o torrão, uma vez que não há tempo hábil (60 dias) para o processo de sangria -- começará hoje mesmo e correrá por conta da BRMalls.
Fau Barbosa e eu estaremos lá, acompanhando o início dos trabalhos.

Dois tipos de autorização
A BRMalls precisa de duas autorizações para dar início às obras. Uma delas diz respeito à faixa que sai da Adib Auada e desce até a Raposo, ao lado do Wal Mart, e à parte que segue paralela à Adib, até 30 metros antes do córrego e da área alagada que ficam na gleba. Essa autorização já foi concedida pelo Departamento de Meio Ambiente, que permitiu a retirada de 49 árvores (22 exóticas e 27 nativas).
A outra, que inclui a porção onde se encontram os corpos d'água, depende do DEPRN e ainda está em estudos. A previsão é de que seja dada em aproximadamente 30 dias. Antes disso, as máquinas estão proibidas de entrar nessa área
(veja foto abaixo). Por isso, continuemos de olho. Qualquer irregularidade merecerá nova mobilização do movimento de moradores e nova interrupção dos trabalhos.


Planta-base do terreno do shopping (a Adib Auada fica no alto do desenho e a Raposo, na parte inferior). As áreas em amarelo e camurça dependem de autorização do DEPRN. Até que ela seja concedida, as máquinas de terraplenagem não podem entrar ali.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Olhos novos para o novo

Vou por tópicos, pra não encompridar muito um texto já longo.
1. Parece que grande parte das pessoas ainda não se deu conta da importância daquilo que vêm fazendo ao usar a internet para debater temas de interesse do município. Vejam: nós "simplesmente" estamos colocando a discussão política na ordem do dia, e numa cidade em que isso não acontecia nessa grandeza!!! É assim que vamos minar o clientelismo que formou a cultura política de Cotia. Quando o cidadão tem espaço para o debate, fórum para colocar suas avaliações, suas críticas, seus anseios, ele se sente participante. Sujeito da própria história. Perde a sensação de impotência que caracteriza há séculos a cidadania neste país. E esse é um passo enorme na direção da implantação de uma gestão democrática, em especial nesta cidade.
2. Tanto o cotiatododia como nossa lista de discussão são espaços para isso. Não importa que poucos escrevam. Importa o debate continuar aceso e as pessoas saberem disso, terem certeza de que esses espaços estão à disposição delas. Vejam: a velha maneira de fazer política, com intermináveis, cansativas e pouco produtivas reuniões, está sendo enterrada pela internet e pelo celular. O debate hoje é on-line, e vai ao ar na hora em que acontece. A divulgação do corte das árvores no terreno do shopping é uma prova disso. A mobilização é rápida, imediata. E dá resultados, como temos testemunhado. O grupo de mobilizou, a Fau ligou para a BRMalls contando da reação dos moradores e pronto: lá veio a ordem de deter o corte até ser realizada a tal "reunião". Deter o corte e provocar uma reunião de gente poderosa como a BRMalls só foram possíveis pq há mobilização popular -- não na rua, mas nas casas, escritórios, lojas, laboratórios. Isso seria impensável anos atrás, quando ainda predominava o velho modo de fazer política. Estamos na sintonia da dinâmica da vida, que não nos é dada; ao contrário, é construída por nós, coletivamente, a cada segundo.
3. Quando digo "política", não me refiro à política partidária. Eu me refiro à verdadeira política, aquela que é feita pelos cidadãos, que se unem para defender interesses. Nada a ver com uma possível candidatura da Fau -- iniciativa que, como ela está careca de saber, apóio. (Precisamos de vereadores que cuidem da causa ambiental. Mas essa é outra história.) A verdadeira política, a política cidadã, por tratar de assuntos de interesse público, precisa ser transparente e deve ser divulgada. Não estou inventando a roda. Kant já falava nisso. Marx falava. Mais recentemente, a teoria da ação comunicativa do Habermas fala nisso. Transparência e comunicação são imprescindíveis em qualquer movimento político, em especial o cidadão. É assim que outras pessoas ficam sabendo das conquistas dos grupos. E se animam a formar os seus. E a coisa se espalha, colocando em xeque governos centralizadores e autoritários.
3. É por isso que insisto em que seja dado o crédito ao movimento quando se noticiam suas conquistas. Para tornar a ação transparente. Para incentivar outros grupos. Além disso, é uma questão de justiça. Pessoas saem cansadas do trabalho e vão às reuniões. Pessoas abrem suas caixas-postais e lêem os e-mails. É preciso respeitá-las, e isso inclui reconhecer seus esforços. Por outro lado, os e-mails lhes provocam reações as mais diversas. Não importa quais sejam essas reações -- importa que essas pessoas ficam informadas do que acontece à sua volta, refletem, avaliam, participam, divulgam e, de boca em boca, essa informação corre o bairro e a cidade. Ou seja: os cidadãos tomam consciência de que os protagonistas da cena política são eles e que esse posto ninguém lhes usurpa; há que reagir às tentativas de usurpação.
4. Com tudo isso em jogo, não dá pra ficar na perspectiva pessoal de achar, sei lá por qual motivo, que não se devem divulgar os autores dessas ações. É essa divulgação que fará o movimento dos cidadãos crescer. É a isso que chamo política.
5. O Alfredo propôs, e eu topei, iniciar uma série de encontros de formação política, em junho. Vou falar de democracia participativa; teoria da ação comunicativa; marxismo; desenvolvimento sustentável como caminho para amenizar os paradoxos e os desequilíbrios que sustentam o sistema de produção capitalista; enfim, abrir o debate para que possamos avançar para o século XXI e sair da idade média feudal cotiana. Esse atraso, e suas funestas conseqüências à população, precisa acabar. E só vai acabar pelas ações dos cidadãos, pelo exercício da cidadania no cotidiano, em sites como o cotiatododia, em nossa lista de discussão, em casa, na escola, na rua.
6. Por fim, vamos parar de achar que críticas a idéias e atitudes são birras pessoais. Há uma enorme diferença entre debater e fofocar. Estamos no campo das idéias, não no campo da censura moralista, pessoal. Paremos também de achar que conflitos são ruins e que divulgá-los é pior. Não!!! Incentivemos o debate! Discordemos! Apontemos problemas em idéias e proponhamos outras! Elaboremos argumentos, conceitos; exercitemos nossa capacidade de pensar! Reconheçamos nossos erros numa boa! Qualé? Somos humanos ou deuses?
7. Pra terminar: por que alguns grafam "movimento" assim, entre aspas? Para desqualificar o que realizamos? Por ironia? Sorry, mas MOVIMENTO é exatamente o que fazemos. Nos sites, nas listas de discussão (que não têm esse nome à toa...), nas análises, nas ações. Estamos nos movimentando o tempo todo. Qualé o problema que alguns têm com a palavra? A defesa do velho modo de fazer política? Protesto. Contesto. Acho uma crítica descabida.
Bom dia a todos.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Formado o grupo do desenvolvimento sustentável

Lixo pelas ruas, córregos sujos e assoreados, desmatamento, queimada, ruas sem manutenção ou calçamento, invasão de espaços públicos e de APPs são alguns dos problemas que os moradores da Granja enfrentam cotidianamente. Para pôr em prática ações que os resolvam foi formado um grupo dedicado especificamente ao desenvolvimento sustentável da região.
Na primeira reunião, realizada em 8 de maio no Espaço Conhecer, Rogério Ruschel e eu fizemos um histórico do conceito de desenvolvimento sustentável antes do início do debate sobre como abordar a questão aqui na Granja. Foram várias as idéias, todas muito interessantes. Decidimos, porém, eleger uma delas para dar início aos trabalhos: a limpeza do córrego Poscium.
Já existe um projeto nesse sentido, elaborado por Claudia, Fau (membros do grupo) e Luciana (do departamento de meio ambiente da prefeitura), e aprovado pelo Fehidro. Claudia e Fau farão uma apresentação desse projeto em 29 de maio, a partir das 20h, também no Espaço Conhecer. Com base nele programaremos nossas primeiras ações.
Também ficou decidido que o grupo realizará reuniões quinzenais, às quintas-feiras, não apenas para definir ações concretas mas também para organizar palestras e debates que aprofundem nosso conhecimento sobre o tema e auxiliem nos trabalhos e nas tomadas de decisão.
O grupo continua aberto à participação de todos.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O que é desenvolvimento sustentável

Desenvolvimento sustentável é um conceito relativamente novo. Apareceu pela primeira vez em 1987, no documento Nosso Futuro Comum (Relatório Brundtland), para indicar, basicamente, duas coisas: a necessidade de utilizar os recursos do planeta sem esgotá-los e a urgência de mudanças num sistema econômico voltado exclusivamente para o lucro, sem levar em conta fatores ambientais, sociais e culturais.


A necessidade da existência do conceito de desenvolvimento sustentável mostrou, no fundo, a falência do modelo econômico fundado no lucro-a-qualquer-preço. O custo da manutenção desse modelo, já muito alto – miséria, fome e desemprego, para ficar nas conseqüências mais gritantes – será cada vez maior, com a extinção de riquezas naturais e o aumento, em número e intensidade, de calamidades como secas, furacões, inundações, terremotos.


Previsões funestas como essas deram fôlego novo a programas que há anos vinham alertando para esses riscos e sugerindo mudanças globais, como Nosso Futuro Comum, Agenda 21, Objetivos do Milênio e Protocolo de Quioto (veja box “Programas da ONU”). Mas o alerta vermelho soou em fevereiro de 2007, quando da divulgação do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Soube-se então que a situação é mais grave do que se pensa. E que foi gerada por nós, seres humanos.


O relatório do IPCC é prova do colapso da nossa civilização. Não se trata, porém, de um colapso circunstancial. Ele tem uma história, que se inicia no surgimento da espécie humana e se desenrola no percurso que essa espécie fez ao longo de milhares de anos.


A predominância do tipo de cultura que caracteriza o mundo ocidental – em detrimento, por exemplo, de práticas orientais milenares – não aconteceu à toa. Nossas raízes, fincadas na Grécia e na Roma antigas, no mundo judaico-cristão, deram origem a um tronco torto. Do Gênesis bíblico ao aquecimento global, passando pela filosofia natural e sua transformação em ciência, o ser humano sempre se colocou acima da natureza, como se não fizesse parte dela. Pior: como se ela existisse para servi-lo. Não admira, portanto, que séculos de pretenso domínio sobre o mundo natural tenham nos levado a quase destruí-lo.


Sem ter clareza de que somos parte do mundo que habitamos, e que nossas ações o constroem (e destroem) a cada segundo, daremos ao desenvolvimento sustentável somente o status de moda passageira. E tornaremos a Terra quase inabitável. Somente a consciência de que também somos natureza nos levará a atitudes práticas que evitarão tragédias maiores. Da reciclagem do lixo caseiro à cessação do desmatamento e da poluição, todos podemos colaborar. Apenas a sincera união de esforços entre população, empresariado, associações civis e poder público pode reverter as conseqüências do aquecimento global.


Desenvolvimento sustentável é...

... a ação de suprir nossas necessidades, no presente, com o uso racional (sem desperdício) dos recursos naturais, para que eles não se esgotem. Os projetos que visam à sustentabilidade precisam ter ao menos quatro requisitos básicos: ser ecologicamente corretos, economicamente viáveis, socialmente justos e culturalmente aceitos.

Programas da ONU

Nosso Futuro Comum: também conhecido como Relatório Brundtland, foi elaborado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Destacou a pobreza nos países do hemisfério sul e o consumismo abusivo das nações do hemisfério norte como causas das crises sociais e ambientais.

Agenda 21: documento ratificado por 179 países durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92), no Rio de Janeiro, em 1992. Propôs a reinterpretação da noção de “progresso” e a colaboração entre governos, empresas, associações civis e populações na busca por soluções para os problemas socioambientais.

Objetivos do Milênio: programa da ONU elaborado em 2000. Propõe oito objetivos: fim da fome e da miséria; educação de qualidade para todos; redução da mortalidade infantil; igualdade entre sexos e valorização da mulher; melhoria da saúde das gestantes; combate a aids, malária e outras doenças; qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; trabalho de todos pelo desenvolvimento do planeta.

Protocolo de Quioto: resultado da Terceira Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (Japão, 1997). Estabelece a redução, entre 2008 e 2012, das emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases por parte dos países industrializados. Os Estados Unidos, maior emissor de CO2, não assinou o tratado por considerá-lo “caro demais”.

Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas: órgão da ONU que reúne 2.500 cientistas de todo o mundo. Criado em 1988, elabora relatórios com informações científicas sobre o clima no planeta.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Under pressure, the Cotia Rodeo was a flop

The pressure exerted by animal protectors and environmentalists from the Cotia region, along with everyone who contributed towards protesting against the rodeo effectively produced some good results. The most important of them was that none of the equipment used disrespected the technical specifications, which avoided physical injuries to the animals. Only two or three animals showed wounds, which occurred outside of the arena. And the cursed lasso contests, capable of killing the poor calves, did not take place.

All of this information will be included in the veterinarian’s expert report. This veterinarian, also an animal protector, was present, at our request, during all of the sessions examining and closely monitoring all of the activities. Another positive result of the protest was the contracting by part of the event’s organizers of a veterinarian registered in the rodeos federation. His presence along with the veterinarian-protectionist was a decisive factor to ensure that the animals were not abused or mistreated – even though, obviously, they could not avoid the stress provoked by the situation, which also causes them suffering.

The lack of public was equally positive. The City Hall authorities’ spending of public money to build a special events arena destined to host the 11th edition of the Cotia Rodeo was in vain. Their communication strategy, which included advertising using cars with mounted rooftop speakers, web site, billboards, banners and other media, also failed to produce the desired results. The public of 100,000 people expected by the organizers simply did not appear. Very few spectators watched the rodeos. Not even the City Hall inspectors – who should be there on duty – showed up.

We hope that as a result of the generalized protests and the lack of interest by part of the population, the Cotia Rodeo ceases to exist. This is simply a matter of good common sense. But if common sense fails to prevail, we are prepared to carry onwards with our efforts by means of the petition and the lawsuit that is already moving forward in Justice until the rodeo is definitely removed from the city’s schedule of events.

We want to express our gratitude to the thousands of people (worldwide) and the local media who supported our fight in defense of the animals. We send you all a big hug and all our affection, from the bottom of our hearts.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Sob pressão, o rodeio de Cotia fracassa

A pressão de protetores e ambientalistas de Cotia e região, e de todos aqueles que nos apoiaram no protesto contra o rodeio, acabou produzindo alguns bons resultados. O mais importante deles foi que nenhum apetrecho estava fora das especificações técnicas, o que evitou ferimentos físicos nos animais. Apenas dois ou três apresentaram machucados, que aconteceram fora da arena. E as malfadadas provas de laço, capazes de matar novilhos, não foram realizadas.
Todas essas informações constarão do laudo da veterinária, também protetora, que esteve presente, a nosso pedido, a todas as sessões, examinando os animais e acompanhando de perto todos os acontecimentos.
Outro resultado positivo do protesto foi a contratação, por parte dos organizadores do evento, de um veterinário cadastrado na federação dos rodeios. A presença dele, e da veterinária-protetora, foi fator decisivo para que os animais não sofressem maus tratos -- embora, evidentemente, não tivessem como se livrar do estresse provocado pela situação, o que também lhes causa sofrimento.
A ausência do público foi igualmente positiva. De nada adiantou a prefeitura gastar dinheiro público para construir uma praça de eventos destinada a abrigar a 11a. edição do rodeio de Cotia. Tampouco teve êxito a estratégia de divulgação, que incluiu carros de som pela cidade, sítio na internet, outdoors, faixas, mídia. O público esperado pelos organizadores, de 100 mil pessoas, simplesmente não compareceu. Pouquíssimos foram os espectadores que assistiram às provas do rodeio. Nem mesmo os fiscais de prefeitura -- que deveriam estar lá por dever de ofício -- apareceram.
Esperamos que, diante dos protestos generalizados e da falta de interesse da população, o rodeio de Cotia deixe de ser realizado. É uma questão de bom senso. Mas, se o bom senso não imperar, estamos preparadas para levar o esforço adiante, com o abaixo-assinado e com a ação que já corre na Justiça, até que o rodeio saia definitivamente do roteiro de eventos da cidade.

Queremos deixar nossos agradecimentos às milhares de pessoas (do mundo inteiro), e à mídia local, que nos apoiaram nessa luta em defesa dos animais. Um grande abraço e todo nosso carinho. Do fundo do coração.
[Uma versão em inglês deste post foi enviada a nossos apoiadores na Europa e nos Estados Unidos.]

quinta-feira, 27 de março de 2008

Supermercado Serrano x córrego Poscium: a natureza leva a melhor

[Texto de Roberto Zullino, morador da Granja. Publicado com a permissão do autor.]


Quando pensamos que a burrice humana tem limites, nos enganamos. O homem é capaz de proezas inimagináveis. Hoje, dia 27 de março, assistimos à inundação AUTO-INFRINGIDA do Serrano. Deve ser o primeiro caso no mundo: iremos para o Guiness. Finalmente o mundo se curvará ante a Granja Vianna.

Espero não ser acusado de nada a não ser estar me mijando de tanto rir, ao ver que a burrice punida não tem preço. Foi o melhor exemplo de tiro no pé visto nos últimos tempos.

As antas construíram a ponte sobre o córrego Potium e diminuíram a secção do mesmo. Deu no que deu, inundou. A Promotoria de Cotia está movendo uma Ação Civil Pública contra o aborto de obra que foi feita.

Só falta processarem a prefeitura pela inundação, coisa que, se não me engano, tentaram fazer antes. Ainda bem que a Promotoria entrou com uma ação antes. Do contrário correríamos o risco de ter de pagar os prejuízos com nossos impostos.

Processar a prefeitura para ganhar algum pelo prejuízo causado pela auto-idiotice. Uma visão socialista heterodoxa certamente, mas quem somos nós para criticar esses novos conceitos econômicos do tipo “uso área pública, fico com o lucro e se der algum problema passo o prejuízo para a sociedade”, em resumo, nós?

Até polícia veio porque uma moça tentava tirar umas fotos da comédia de pastelão e foi ameaçada de agressão por um dos funcionários do Serrano; é de praxe. Ameaçada, chamou a polícia, onde estamos? Essa é a educação que queremos que nossos comerciantes tenham?

Polícia, transeuntes, desocupados, clientes, uma comédia. Tudo isso com os funcionários tirando a água enlameada. Quem viu, viu; quem não viu, não desanime que poderá se divertir em novas ocasiões; afinal, estamos em março.

Amanhã deve ter promoção no supermercado. Não percam.

Precisa ser muito inteligente para saber que a natureza se vinga?

Em homenagem à inteligência vigente só posso fazer a frase: eu çy divirtu.

[Fotos: Movimento Granja Viva]

O córrego Poscium retoma o espaço que o homem lhe tirou...


... e invade a loja do algoz, o supermecado Serrano.